O Estudioso e o Preguiçoso
Por Jorge Batista
Na sala da vida, conviviam dois personagens bem distintos: o Estudioso e o Preguiçoso. Não se tratava de uma fábula, tampouco de um julgamento. Apenas duas formas de caminhar — ou de se sentar diante do mundo.
O Estudioso era daqueles que lia até o rótulo do shampoo, só por curiosidade. Estava sempre com um livro embaixo do braço e uma pergunta na ponta da língua. Não acreditava em sorte: confiava na preparação. Enquanto o mundo dormia, ele estudava. Enquanto o sol nascia, ele já havia aprendido algo novo.
Já o Preguiçoso… ah, esse tinha talento. Mas fazia questão de deixar para amanhã — ou para nunca. Era criativo nas desculpas, especialista em adiar, mestre em cochilar com estilo. Dizia que pensava melhor deitado e que a inspiração só vinha quando o relógio batia meia-noite — ou quando não tinha mais como fugir.
Os dois conviviam em harmonia estranha. O Estudioso insistia: "Vamos aprender algo hoje?"
O Preguiçoso respondia: "Claro! Depois da soneca."
Curiosamente, ambos colhiam frutos — mas de naturezas diferentes. O Estudioso plantava com suor e colhia com orgulho. O Preguiçoso, vez ou outra, esbarrava num golpe de sorte, mas a colheita era sempre pequena… e fugidia.
A vida, sábia como só ela, não condena nem premia por completo. Apenas revela: o que se constrói com esforço permanece. O que se improvisa na pressa, desmancha no tempo.
No fim, o Estudioso aprendeu que descansar também é preciso. E o Preguiçoso, um dia, acordou para a realidade de que talento sem ação é como livro fechado: não serve pra nada.
E assim, entre estudos e sonecas, os dois continuam por aí — dentro de cada um de nós. A diferença está em quem escolhemos alimentar todos os dias.