Entre Risos e Silêncios

 

Entre Risos e Silêncios

No intervalo da escola, entre um gole de refrigerante e um comentário bobo sobre o professor de matemática, Clara e Miguel riam como se o mundo fosse feito apenas daquele instante. Não era namoro, ainda não. Era amizade com um tempero diferente, daqueles que só os dois pareciam perceber.

Eles se conheciam desde o sexto ano. Já brigaram por causa de uma figurinha, dividiram fone de ouvido em dia de prova e um dia até choraram juntos quando o cachorro dela morreu. Mas agora, aos dezesseis, os risos vinham acompanhados de silêncios mais longos, olhares que demoravam um pouco mais do que o necessário.



Não foi um beijo que mudou tudo. Foi um toque de mãos distraído, na saída da aula, quando ela pegou na mochila dele por engano. Os dedos se encontraram e nenhum dos dois recuou. Aquele gesto simples carregava um universo.

— Você acha que a gente tá mudando? — ela perguntou, olhando o céu da tarde que começava a escurecer.

— Acho que sim... mas não sei se é ruim — respondeu ele, com aquele sorriso torto que ela sempre achou fofo, mas nunca tinha dito.

A beleza daquele tipo de relação é que nasce devagar, sem rótulos, sem pressa. Primeiro, a amizade; depois, a dúvida. E, então, a coragem de arriscar.

Na semana seguinte, sentaram-se mais perto. Trocaram menos palavras, mas mais olhares. E no fim da tarde, ele segurou a mão dela com a naturalidade de quem segura algo precioso — sem força, mas com firmeza.

Amor de juventude é assim: frágil como um segredo, intenso como uma confissão. Pode durar uma estação ou uma vida inteira. Mas mesmo que dure pouco, nunca é esquecido. Porque marca. Ensina. E mostra que, às vezes, a melhor parte de uma história de amor... começa com uma grande amizade.

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